segunda-feira, 15 de abril de 2013

Certas Noites


E eu penso que posso escrever nessa noite.
Que terei o silêncio que dorme.
Mas late o cachorro da rua
que me narra a sua ausência.
E faz-se o barulho que escrevo.
É quando me lembro.
Não posso lembrar que grita o silêncio
que acorda
feito criança chorando no berço.
É quando me esqueço
do cachorro que já foi embora
desistindo da sua solidão
no meio da noite que escrevo.
Enquanto me ausento
dele
pra propor trégua ao meu coração
que se desmancha.
É quando me deito
e se durmo não me reconheço
distante de tantos goles de sono
que não bebo.
Escuto vozes, pneus de bicicleta no asfalto rodando,
escuto automóveis partindo, parando.
Reflexos de faróis no teto eu os vejo.
Sobre sonhos não conto,
ainda meus olhos são tímidos desencontros.
Quem sabe o amanhã novamente
interrompa-me o medo que escondo.
Escrever o que sangro.

Didier Lourenço


Nenhum comentário: